Dos muitos problemas socioambientais percebidos na Amazônia brasileira,
pelo menos um tem efeitos
cumulativos nos organismos: a intoxicação por
mercúrio. A entrada desse metal no corpo humano pode ser facilitada pelas
queimadas. É sabido que a espécie humana utiliza as queimadas há milhares de
anos. Os motivos parecem ser os mesmos de atualmente: livrar-se de lixo e
entulho acumulados ou liberar uma área vegetada para o plantio ou criação de
animais. A prática de atear fogo àquilo que queremos presenciar desaparecer de
vista já causava impactos na saúde das pessoas e ao meio ambiente antigamente.
A grande diferença para hoje em dia encontra-se no número de pessoas no mundo.
Muitas pessoas têm o potencial para provocar muitos problemas.
O mercúrio utilizado nos garimpos de
ouro foi liberado no ambiente em quantidades enormes. O sedimento mais denso coletado
em pequenos rios é separado com a bateia (um tipo de bacia cônica). Então, o
mercúrio é colocado e se fixa às partículas de ouro, formando um aglomerado
(amálgama). Esse amálgama é queimado em recipientes, o mercúrio vaporiza e
restam apenas partículas de ouro. Através de processos semelhantes, os
espanhóis e portugueses lançaram quase 200 mil toneladas de mercúrio nos
períodos colonial e pós-colonial na América do Sul e América Central. É
estimado que mais de 2 mil toneladas de mercúrio tenham sido lançadas no
ambiente só na última corrida do ouro, nos anos 80 e início dos 90. Não se sabe qual quantidade desse
mercúrio foi liberada na Amazônia ou mesmo o quanto do metal permanece em seus
ecossistemas. No entanto, têm sido observadas grandes quantidades de mercúrio
em peixes amazônicos.
Através dos peixes, o mercúrio encontra-se
em uma forma chamada metilmercúrio e pode contaminar o organismo humano pela
ingestão. Outro modo que o mercúrio tem de penetrar em nosso corpo é em sua
forma elementar e correm maiores riscos os garimpeiros que queimam o amálgama para
a purificação do ouro. Uma vez dentro da máquina humana, o mercúrio pode causar
dormência nos membros, turvamento ou perda de visão, perda de audição e de
coordenação muscular, além de retardo mental e distúrbios motores em bebês
ainda na barriga da mãe.
O mercúrio presente no solo
permanece retido e não se desloca pelos ambientes, porque a vegetação oferece
um tipo de proteção. Quando as florestas são queimadas, o mercúrio é liberado para
a atmosfera. Estima-se que cerca de 12 toneladas de mercúrio sejam lançadas anualmente
para o ar devido aos incêndios na Amazônia. Essa contaminação é prejudicial em
escala local, regional e global. O mercúrio das queimadas é liberado sob a
forma elementar, que contamina as pessoas através dos pulmões. Mais grave que
isso, o mercúrio volta à superfície pela ação das chuvas e quando atinge o
solo, lagoas ou rios, transforma-se em metilmercúrio. Essa é a forma que leva à
contaminação dos peixes que comemos.
Podemos minimizar a poluição por
mercúrio se prestarmos atenção aos meios que levam à liberação desse metal no
ambiente: reduzindo ou cessando os desmatamentos e queimadas de áreas
florestais e evitando que o mercúrio dos garimpos contamine as águas ou o solo.
Autor: Prof. Gabriel
Cestari Vilardi
Coordenador
do projeto de extensão universitária “UNIR na Mídia – Temas Socioambientais”.
Agradecimentos
ao Carlos Barroso de Oliveira Júnior pela revisão de texto.