Pedro desejava conviver com a morte, mas não conseguia! Se uma pessoa abençoada partia em direção a outra dimensão, ele parecia morrer por dentro.
Epicuro
bem que tentou decifrar a morte: "A morte é uma quimera: porque
enquanto eu existo, ela não existe; e quando ela existe, eu já não
existo".
Pedro
me disse que, de tanto pensar no tema acabou sonhando um sonho difícil,
quase impossível de ver acontecer, segundo esse devaneio. Desejou
tornar-se Deus.
Mas
haverá curso com esse objetivo? E ele sonhava na obstinação dos
desesperados! Até porque via parentes, amigos e amigas sumirem
periodicamente dos seus humanos olhos.
E
se o(a) escolhido(a) fosse gente próxima do seu coração, além de se
debulhar em convulsivo choro, apregoava que o paraíso seria o único
lugar para recolher aquele espírito de luz.
O
certo é que Pedro sentia inevitável desejo de ser Deus. E raciocinava
que, se fosse Deus, jamais autorizaria a passagem de alguém tão
virtuoso...
Afinal,
aqui no seu jardim clonal humano, divino e exclusivo, o planeta Terra,
só aqueles que se valiam do livre arbítrio para a prática de princípios
sadios, logo moral e eticamente consagrados,nele haveriam de permanecer.
Bandido iria reinar noutra freguesia... Criaturas perversas, se
possível, nem nascer, ele, Pedro, autorizaria.
Mesmo porque Pedro se enquadrava no grupo que elevava loas ao ditado “o bem é a única arma que temos para combater o mal”...
Por
que a morte chegava para homens e mulheres, parentes de Pedro ou não?
Por que desapareciam dos seus olhos pessoas que procuravam fazer
agigantar as virtudes, idealizando o bem, a generosidade, a
solidariedade e a fraternidade?
E,
contrario sensu, via prosperar indivíduos egoístas, gananciosos,
apologistas dos crimes, assassinos e meliantes, alguns dos quais se
mantinham vivos, ultrapassando a idade média dos homens numa determinada
região!
E
aí Pedro ia elucubrando saídas para planejar a sua transformação em
Deus. Inconformado, imaginava os meios para evoluir; talvez uma
pós-graduação, um mestrado, um doutorado...
Fazer
curso de aperfeiçoamento seria pouco para consagrar-se ao elevadíssimo
posto daquela divindade. No mínimo, para ser Deus deveria buscar pós
doutorar-se em diversas ciências. Descobriria os meios e o tempo para
esses sagrados misteres.
E
naquele sonho, Pedro, tão visionário, trouxe para fazer parte da sua
equipe, nomeando-os anjos, arcanjos e querubins segundo a intensidade de
virtudes que foram cadastradas, os dois São Francisco, Mahatma Ghandi,
Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Irmã Dulce, Madre Tereza de
Calcutá, alguns ganhadores do Prêmio Nobel da Paz, literatura, economia,
medicina, física e Química (ainda que tivessem culpas a purgar), visto a
sua intenção de valorizar apenas o mérito.
Mas,
pasmem! Alguns citados e identificados pela operação Lava Jato já
estavam ensaiando algumas indicações. Essa possível vinculação ao seu
abnegado grupo de super luminares fez Pedro remexer-se na cama, naquele
instante.
Mas
o sonho que Pedro embalava costurando as ações planejadas foi
interrompido. É que Deus, o verdadeiro, mesmo sem temer a concorrência,
acabou encaminhando o sonhador Pedro para o andar de cima, malogrando o
desejo idealizado de se tornar o soberano árbitro dos mundos no instante
em que fazia um desdobramento na sua fantasia, madrugada adentro.
E eu fiquei chorando a viagem de Pedro, sem desejar me tornar Deus, nem por um milésimo de segundo.
* PAULO CORDEIRO SALDANHA: Nasceu em 1946, em Guajará–Mirim, Rondônia. É Advogado e hoteleiro. Foi Presidente de Bancos Estaduais de Rondônia e Roraima, Diretor do Banco da Amazônia e Diretor–Geral do Tribunal Regional do Trabalho da 14º Região. Cronista e Romancista. É Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.