Crônicas Guajaramirenses: O homem que queria aprender a ser Deus

Por Paulo Saldanha
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O Mamoré
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* Por Paulo Saldanha
Pedro desejava conviver com a morte, mas não conseguia! Se uma pessoa abençoada partia em direção a outra dimensão, ele parecia morrer por dentro.
Epicuro bem que tentou decifrar a morte: "A morte é uma quimera: porque enquanto eu existo, ela não existe; e quando ela existe, eu já não existo".
Pedro me disse que, de tanto pensar no tema acabou sonhando um sonho difícil, quase impossível de ver acontecer, segundo esse devaneio. Desejou tornar-se Deus.
Mas haverá curso com esse objetivo? E ele sonhava na obstinação dos desesperados! Até porque via parentes, amigos e amigas sumirem periodicamente dos seus humanos olhos.
E se o(a) escolhido(a) fosse gente próxima do seu coração, além de se debulhar em convulsivo choro, apregoava que o paraíso seria o único lugar para recolher aquele espírito de luz.
O certo é que Pedro sentia inevitável desejo de ser Deus. E raciocinava que, se fosse Deus, jamais autorizaria a passagem de alguém tão virtuoso...
Afinal, aqui no seu jardim clonal humano, divino e exclusivo, o planeta Terra, só aqueles que se valiam do livre arbítrio para a prática de princípios sadios, logo moral e eticamente consagrados,nele haveriam de permanecer. Bandido iria reinar noutra freguesia... Criaturas perversas, se possível, nem nascer, ele, Pedro, autorizaria.
Mesmo porque Pedro se enquadrava no grupo que elevava loas ao ditado “o bem é a única arma que temos para combater o mal”...
Por que a morte chegava para homens e mulheres, parentes de Pedro ou não? Por que desapareciam dos seus olhos pessoas que procuravam fazer agigantar as virtudes, idealizando o bem, a generosidade, a solidariedade e a fraternidade?
E, contrario sensu, via prosperar indivíduos egoístas, gananciosos, apologistas dos crimes, assassinos e meliantes, alguns dos quais se mantinham vivos, ultrapassando a idade média dos homens numa determinada região!
E aí Pedro ia elucubrando saídas para planejar a sua transformação em Deus. Inconformado, imaginava os meios para evoluir; talvez uma pós-graduação, um mestrado, um doutorado...
Fazer curso de aperfeiçoamento seria pouco para consagrar-se ao elevadíssimo posto daquela divindade. No mínimo, para ser Deus deveria buscar pós doutorar-se em diversas ciências. Descobriria os meios e o tempo para esses sagrados misteres.
E naquele sonho, Pedro, tão visionário, trouxe para fazer parte da sua equipe, nomeando-os anjos, arcanjos e querubins segundo a intensidade de virtudes que foram cadastradas, os dois São Francisco, Mahatma Ghandi, Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Irmã Dulce, Madre Tereza de Calcutá, alguns ganhadores do Prêmio Nobel da Paz, literatura, economia, medicina, física e Química (ainda que tivessem culpas a purgar), visto a sua intenção de valorizar apenas o mérito.
Mas, pasmem! Alguns citados e identificados pela operação Lava Jato já estavam ensaiando algumas indicações. Essa possível vinculação ao seu abnegado grupo de super luminares fez Pedro remexer-se na cama, naquele instante.
Mas o sonho que Pedro embalava costurando as ações planejadas foi interrompido. É que Deus, o verdadeiro, mesmo sem temer a concorrência, acabou encaminhando o sonhador Pedro para o andar de cima, malogrando o desejo idealizado de se tornar o soberano árbitro dos mundos no instante em que fazia um desdobramento na sua fantasia, madrugada adentro.
E eu fiquei chorando a viagem de Pedro, sem desejar me tornar Deus, nem por um milésimo de segundo.

* PAULO CORDEIRO SALDANHA: Nasceu em 1946, em Guajará–Mirim, Rondônia. É Advogado e hoteleiro. Foi Presidente de Bancos Estaduais de Rondônia e Roraima, Diretor do Banco da Amazônia e Diretor–Geral do Tribunal Regional do Trabalho da 14º Região. Cronista e Romancista. É Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
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