Coluna Almanaque - O POETA (GRAND FINALE)

Por Fábio Marques
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O Mamoré
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Por Fábio Marques
Sem nenhum centavo na carteira há mais de uma semana, a primeira coisa que o poeta constatou é que quando a falta de dinheiro entra pela porta da frente, aquilo que achava que era amor escapa pela porta dos fundos. Sem o carinho de sua amada nem a simpatia dos amigos, por mais incrível que pareça, por mais absurdo dos absurdos, o poeta descobriu que no momento em que não tinha mais nada, tinha tudo.
Nascido sob as bênçãos da igreja e da religião, só depois de adulto e rompido com o contrato social, é que tivera coragem de mandar igreja e religião para os infernos. Mas grandes merdas! O nosso status quo até hoje é uma esculhambação só e neste mundo de “meu Deus” a corda só arrebenta do lado do mais fudido. Então o poeta tinha mais era que aceitar este mundo e suas porradas porque afinal este era o seu mundo.
Não possuía muita coisa na vida. Bastava reparar em sua casa no centro da cidade. Não era lá grandes coisas em comparação às casas de cachorros de alguns “Bacanas”, mas ainda consistia em seu último recesso. Era no recesso deste habitat que chorava suas angústias. Era no recesso deste barraco que penava ao procurar as palavras certas a fim de melhorar aquele artigo. Era no recesso desta cabana que se condoia ao procurar viajar para dentro de si mesmo a fim de encontrar um pouquinho que quer que seja de bondade e paz. Era no recesso de sua choupana que ia ao êxtase ao se encharcar de boa música e cerveja.
Um dia passara pelo vexame de estar a frente das barras do Tribunal como réu para prestar posição sobre fatos motivados por causas pessoais e por despeita. Um cidadão o acusara de tê-lo chamado de vagabundo. Esteve lá. O cidadão, como um rato, preferiu não encarar o debate. E uma vez lá se apresentou ao juizado: - Doutor, é o seguinte: Quem é aqui que pergunta e quem é que responde? Quem é que julga e quem é que está sendo julgado? Então se há algum vagabundo aqui, este sou eu. E sem querer estabelecer paralelos entre justiça de fato e justiça de direito, tem culpa eu?
Ah, mas também tivera alegrias na vida. Um dia se envolveu com prostituta. Aliás, prostituta não. Puta mesmo. Prostituta são aquelas mulheres da vida, sofridas, mas de bom coração. A puta quase sempre são aquelas que se dizem muito bem casadas, mas que fazem coisas que deixariam Satanás morto de vergonha. E a coisa rolara sem fundo musical, sem jogos de espelhos, sem caralho artificial nenhum. Era somente sexo e nada mais. Nem chegou a haver nesta época maconha e muito menos cocaína no clitóris. Um dia ela lhe confessou: - Olha, fiquei contigo porque não agüentava mais esta situação. Todas as noites eu sonhava que você estava me comendo. Como um imbecil, ficara boquiaberto. Depois disso nunca mais a viu.
Muito bem antes do suicídio já havia deixado de contagiar corações do sexo oposto com sua eterna euforia. Todo mundo possui anjos e demônios, mas nos últimos tempos só queria viver sem pedras em seu caminho e cumprindo suas obrigações e deveres. Ás vezes até sem exigir seus direitos.
Que descanse em paz...
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