Guajará-Mirim, a cidade fantasma – Por Arimar Souza de Sá

Por Arimar Souza de Sá
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O Mamoré
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Por Arimar Souza de Sá

Era uma vez, ali por volta de 1.900, entre a BR-364 e o Rio Mamoré, nascia uma pequenina cidade batizada carinhosamente como o nome de Guajará-Mirim, que em tupi-guarani, significa “Cachoeira Pequena”. No correr do tempo, ganhou o título de Pérola do Mamoré.

Pujante no período do primeiro ciclo da borracha, ali se formatou uma sociedade tradicional de sírios, libaneses, gregos, nordestinos e bolivianos, de cuja amálgama de raças surgia uma gente bonita, destemida e cheia de esperança.

Em passado glorioso, nas noites de sonhos no clube Helênico-Libanez, as famílias se reuniam nas festas de gala aos sábados, ao som de Sanin e Pedro Eliotério e velhos pioneiros como: Miguel Sena, Pedro Paixão, Timóteo Assunção, Manoel do Saco, Américo Paes, Diogo, Simão Salim, dentre outros, se esbaldavam na pista.

A cidade cresceu e atraiu portovelhenses, que com carinho pela Pérola do Mamoré, se deslocavam com freqüência e rompiam 363 quilômetros de estrada para passar o fim de semana e, de quebra, visitar a Bolívia e torrar uns trocadinhos na compra de eletroeletrônicos.

Mas o município foi ficando desprezado e os deslocamentos foram minguando, na proporção do abandono da estrada que dava acesso.

Hoje, porém, é repugnante ver como o tempo, que não perdoa o próprio tempo , passou e desconstruiu a linda Pérola do Mamoré, que se vê agarrada apenas aos vestígios do que fora antes, servindo a pisos de fantasmas e à chacota de quem a visita.

Na verdade, para não dizer que não falei das flores, ainda restam , como pontos turísticos, as duas igrejas idealizadas e construídas pelo Bispo Dom Rey e algumas cabanas na altura da copa das árvores, no encontro das águas dos rios Mamoré e Guaporé.

É que desastrosas administrações, no pós- ciclo militar, deixaram ruir as avenidas e até o cemitério da cidade se mostra em estado lamentável e tem morrido mais.

De quando em vez vem a chuva forte do noroeste alaga a cidade, as cobras flutuam nas ruas e há certo amargor impregnado no espaço e na tristeza do guajaramirense, que se vê isolado e sonha com uma vida mais saudável e menos sofrível.

Para piorar, na era Lula, os castelhanos invadiram a cidade despudoramente, como se ela fosse um braço da Bolívia. E o estranho é que essa paquera indesejável e pútrida, com mistura de drogas e prostituição, transformou a Pérola num porto de solidão, onde os vivos já estão mortos e a esperança deu lugar ao desalento.

Nesse carrossel de desesperança e de completo alheamento por parte do governo do estado e da classe política, a violência, por óbvio, tomou conta. Daqui a pouco, queira Deus não aconteça, seja ela comandada pela “elite da marginália instalada no Urso Branco, como acontece em outros palcos do Brasil. Cruz credo!

Sem ir ao nó górdio da questão e se tomar as providências necessárias, foi entregue a policia federal a incumbência de combate ao crime organizado, quando a raiz do problema está no processo migratório desenfreado e na falta de política pública de segurança e contingente. Daqui a pouco serão mais bolivianos que brasileiros vivendo naquela cidade fronteiriça.

Se assim for, é honesto pensar que somos um país sem porteiras, uma espécie de abrigo caridoso da turma que não se dá bem na banda de lá, atravessa o rio Mamoré e vem para banda de cá dar as cartas e, muitas das vezes, se dar bem às custas do suor do sofrido povo guajaramirense.

Para se ter uma ideia do descalabro da cidade, até mesmo o Banco do Brasil acaba de fechar sua agência por absoluta falta de segurança. Que horror! Tudo sob o olhar impiedoso dos dirigentes e da classe política. Quem vive ali, parece mesmo ser um povo esquecido de propósito.

E o pior é que não se discute em termos de Estado a segurança nacional. O Banco do Brasil, o Banco da Amazônia, a Caixa Econômica Federal, o Incra e o Exército são órgãos instalados nas fronteiras e que , de certa forma, como representantes do poder nacional, não podem ser removidos sob argumentos isolados, máxime os de segurança.

Como ficou agora a vida de funcionários públicos, militares que eram pagos via Banco do Brasil? E as empresas ali instaladas que eram atendidas por esse banco?

Como então bater em retirada assim, sem protesto, assustado pela ação deletéria de grupos alienígenas e todos consentirem como se nada estivesse acontecendo?

Não, senhor governador! Não, deputados estaduais, federais, senadores da república, prefeito do município. Guajará-Mirim é do Brasil e de Rondônia e não pode nem deve diluir-se ante a sanha dos fora da lei. Não pode, por fim, se transformar no porto da solidão e da intolerância.

Na verdade, este apelo se estende às autoridades instaladas na fronteira. Não brinquemos de ser Brasil. Os nossos vizinhos, apesar de fragilizados economicamente, agem como adultos na defesa de seu território e de seus interesses, como foi no episódio de nacionalização dos bens pertencentes à Petrobras em solo boliviano.

Ora, reveja-se, então o acordo de Roboré, (tratados polêmicos celebrados entre Brasil e Bolivia, em 1958).

Afinal, temos um corpo diplomático razoável capaz de acompanhar o aumento criminalístico nas fronteiras e oferecer soluções plausíveis para diminuir todo esse descalabro.

Lembrando o Caudilho Leonel Brizola, “o nosso problema está no porto” e o nosso está aberto para receber o lixo acumulado na América Hispânica de pobreza, ódio, violência e drogas.

Sejamos mais Brasil, mais higiênicos, olhemos para Guajará-Mirim, antes que os espíritos malignos a lance nas trevas e a cidade vire de vez: “A Pérola dos Fantasmas do Mamoré”.

AMÉM !

Fonte: Rondonoticias


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