Coluna Almanaque - O JINGLE BELLS E A TROUPE DE FARSANTES RIDES AGAIN

Por Fábio Marques
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O Mamoré
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Por Fábio Marques
Nesta época em que todos celebram as festividades de fim de ano, não posso de deixar de me emocionar com a boa vontade de prefeitos, primeiras-damas, chefes de associações, líderes comunitários, instituições religiosas, filantrópicas e assistenciais, veículos de comunicações em geral, rádio e TV em particular; todos empenhados num verdadeiro mutirão, arrecadando recursos e proventos para que nossas crianças pobres não passem fome no natal. É nesta época que a elite burguesa, no intuito de anestesiar sua consciência, se dispersa à procura de crianças pobres e famintas. As cenas são irritantes, falsas, hipócritas, dignas da degradação moral em que estamos vivendo. Empresários, disc-jóqueis e outros pintos calçudos de auditório em carros e caminhões de som a distribuir brinquedos e alimentos pelos bairros da periferia, afinal, o importante é que as crianças carentes não deixem de comer no natal. Convém lembrar que nos outros 364 dias do ano estes fidalgos não querem nem saber se contribuem ou não para que estes infelizes morram de fome. Mas nem por isso deixo de me comover com tamanha boa vontade e altruísmo por parte destes magnânimos.
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Também não posso deixar de comover com a alegria geral. A alegria de pais e avós ao saberem que irão sobreviver mais um ano, pois os filhos e netos gostaram do automóvel que ganharam de presente. A alegria das amantes que ganharam joias dos amantes e a alegria das mulheres dos amantes que ganharam um ferro de passar zerado. A alegria da adúltera que, com a desculpa de comprar presentes para as crianças, pode passar mais tempo no motel com o pé-de-pano, a alegria do corno por ver a mulher tão feliz, a alegria dos donos de planos de saúde, dos donos de cartões de crédito, dos donos de bocas de fumo que faturam o triplo nesta época do ano e, principalmente, a alegria dos sem casa, dos sem emprego, dos sem saúde e dos pobres de espírito, que diante de tantas alegrias dão todo o seu dinheiro para esses pastores picaretas que apregoam que Deus é apenas o lucro obtido pela fé após o desconto de todos os pecados.
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Natal sem fome já é sucesso de marketing. Que tal também carnaval sem fome? Páscoa sem fome? Alagação sem fome? Verão sem fome? Brasileirão sem fome?
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Um grande amigo meu, ex-contador, um cara que muito admiro pela sua honestidade intelectual e sua independência de espirito, me conta que não crê em nenhum dos milagres atribuídos à Jesus, exceto neste de ele haver vivido antes de si mesmo. Segundo este chegado, Cristo viveu sete dias antes de Cristo, porque nasceu em 24 de dezembro, e o primeiro ano da era cristã só teve início no dia 1º de janeiro após o seu nascimento. Embora seja tão cético como ele, acho que nesse negócio de religião a gente tem que ir bem devagarinho pra não pisar em casca de ovos. Pessoalmente eu prefiro agir como Voltaire, que quando se referia a Deus, simplesmente dizia: - O cavalheiro lá em cima...

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