Coluna Almanaque - HISTÓRIAS DO TEMPO DO RONCA

Por Fábio Marques
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O Mamoré
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Por Fábio Marques
Segunda-feira de carnaval não é data propícia para discutir política. Portanto hoje apenas histórias da cidade passadas de geração para geração e que remontam à época dos seringais, garimpos e também do auge do comércio local. Algumas são dadas como fatos reais e outras como pura invenção, mas todas colhidas através das infindáveis conversas de boteco no percurso do tempo. Aqui um refresco.
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O chuvisco estava bem fininho naquela manhã de domingo quando aquelas duas canoas saíram de Porto Acre e desceram em direção ao cemitério logo abaixo às margens do Rio Guaporé. Na primeira canoa, quase toda ocupada por um caixão de madeira de segunda que levava em seu interior o corpo do defunto, estavam a frente do remador os dois cunhados do finado. Semblantes sisudos, mal trocavam olhares e falavam-se apenas através de monossílabos e em voz de resmungo. Na outra canoa, quase que lado a lado, estavam a viúva e suas duas irmãs que choravam baixinho a partida do marido e cunhado. A frente das mulheres, três meninos, filhos cada um de uma das senhoras, também choravam a morte do mesmo pai abatido a tiros na noite anterior.
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Já estava quase para desistir da tocaia, morrendo que estava a tarde, quando viu a “encomenda” se aproximar na curva da estrada do garimpo. Sabia que quando chegasse na cabeceira da ponte, desceria de seu automóvel para se refrescar nas águas do igarapé que corria embaixo. Fez a mira e colocou o dedo no gatilho. Mas uma abelha acabou pousando na coronha da espingarda e em seguida ferrou-lhe o olho direito. O tiro saiu para o alto e o outro teve tempo de tirar o revólver do porta-luvas do Maverick e despachar o seu “assassino” primeiro. Ainda teve tempo de escutá-lo gritar antes de morrer: -Abelha filha-da-puta! Sotério Apolinário, sujeito sério na gratidão, mandou o ourives fazer uma abelha de ouro para enfeitar seu anel de 18 quilates.
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Estranhou quando aquele rapazinho apareceu naquela moto. Sabia que já havia visto aqueles olhos e aquele semblante de algum lugar ou ocasião. O rapaz perguntou-lhe pelo nome e entregou-lhe um bilhete que ao iniciar a leitura também sabia que conhecia aquelas letras, mas ficou a matutar. Quando conseguiu reconhecer já era tarde. O rapazinho apenas rematou: - Sou o caçula dele. Dito isto, disparou-lhe três balaços certeiros na cabeça e “azulou” em sua moto em direção á currutela do Imbaúba, garimpo famoso à época. O ano era 1984.
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Naquela noite a esposa já havia contado seis tapas que pegara do marido que havia chegado em casa bêbado e morto de ciúmes. Por não suportar mais aquela situação que já estava virando rotina, explodiu: - Seu filho duma puta, covarde, nojento. Vou te denunciar para a Delegacia das Mulheres agora mesmo. Você vai pagar caro ordinário! Ato contínuo, a senhora começou a discar para o 190. O marido a interrompeu com uma faca em seu pescoço: - Pois ligue. Mas ligue mesmo. Mas faça um favor. Ligue em seguida lá do necrotério para a funerária e fale assim: - Estou mortinha da silva. Podem vir buscar meu cadáver. Mas venham logo porque já está fedendo e começou a empestar o ambiente! A ligação não se completou. Estão vivendo felizes até hoje entre chifres, arranhões, tapas e beijos.
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