Casos estão sendo investigados pela Polícia Civil de Guajará-Mirim
Familiares denunciaram um médico de uma unidade de saúde de
Guajará-Mirim (RO), distante pouco mais de 330 quilômetros de Porto
Velho, depois de dois recém-nascidos morrerem após os partos que foram
realizados na unidade. Testemunhas alegam que houve negligência por
parte do médico e acreditam que os bebês estariam vivos se não fosse
pela demora no atendimento.
De acordo com os boletins de ocorrência, uma moradora de Guajará-Mirim,
que não teve a idade revelada, deu entrada no Hospital Bom Pastor, que
tem convênio com o município, no dia 1º de dezembro e permaneceu sem
atendimento médico até o dia 3.
Pouco tempo depois do nascimento a criança faleceu devido complicações
respiratórias causadas por ingestão de líquidos e fezes.
O segundo caso aconteceu com uma moradora de Nova Mamoré (RO). Gerlaine
de Oliveira, de 19 anos, ela estava com 39 semanas de gestação quando
começou a sentir as primeiras contrações. No dia 1º de dezembro recebeu
os primeiros atendimentos no Hospital Antônio Luiz de Macedo em Nova
Mamoré.
Logo em seguida ela foi encaminhada ao Hospital Bom Pastor. A jovem
chegou a Guajará-Mirim na madrugada do dia 2, onde permaneceu internada.
Ainda segundo o boletim de ocorrência, o médico disse que o parto não
poderia ser realizado, pois a jovem tinha apenas 2 cm de dilatação e são
necessários 10 cm.
Após dois dias de internação no hospital, Gerlaine tinha 5 cm de
dilatação, então o médico decidiu fazer uma cesariana. Nesse tempo a
criança ingeriu fezes, teve que ser entubada, não resistiu e morreu.
O Caso
Em contato com Juliana de Oliveira, irmã de Gerlaine, que deu
detalhes sobre a gravidez da irmã. Segundo ela, a gravidez não era de
risco e durante o pré-natal não houve nenhuma complicação.
Ainda de acordo com Juliana, Gerliane chegou ao hospital de Nova Mamoré
dia 1º e o médico de plantão teve que ir à capital para atender uma
emergência, por isso a gestante foi encaminhada ao Hospital Bom Pastor.
Gerliane chegou em Guajará-Mirim no dia 2, por volta das 2h50 e foi
atendida por enfermeiras. Uma delas informou que a gestante estava com
infecção urinária e por isso estava sentindo dores.
“Falei com uma enfermeira, 'minha irmã está com contrações e ainda não
foi atendida por nenhum médico, as contrações estão muito próximas' e
ela respondeu que isso era normal, já que a gestante estava com uma
infecção urinária. Ai falei, 'moça, a médica que fez pré-natal da minha
irmã disse que ela tem até o dia 3 para ganhar neném, ela já está em
trabalho de parto' e a enfermeira respondeu que não estava”, disse
Juliana.
Do dia 1° ao dia 4, Gerliane sentia dores, mas a equipe médica informou
que era normal. Um exame de ultrassom foi realizado e segundo o médico
não havia risco, por isso disse para esperarem um pouco mais. Gerliane
entrou na sala de cirurgia no dia 4 às 00h30.
“Minha mãe me ligou na segunda-feira de noite e disse que minha irmã
seria operada. Ela já estava muito mal, ela sentia tanta dor que
defecava. O doutor disse que só operou porque ele viu que a neném havia
feito cocô dentro da barriga da minha irmã”, contou Juliana.
Por volta de 1h a bebê nasceu, em seguida uma enfermeira da unidade
disse aos familiares que ela estava bem e que tinha nascido com um pouco
de falta de ar, e como consequência foi entubada.
Pouco tempo depois, o estado de saúde da criança piorou e um pediatra
foi chamado para socorrê-la. Após duas paradas cardiorrespiratórias o
médico iniciou um processo de drenagem no pulmão da recém-nascida.
“O pediatra me chamou e disse que estava difícil estabilizar a bebê.
Ele começou a drenar o pulmão dela e saiam muitas fezes. Eu perguntei
qual a causa disso e ele falou para mim ‘ela passou da hora’”, disse
Juliana.
Algumas horas após o parto a recém-nascida não resistiu às complicações
e morreu. O atestado de óbito foi registrado como asfixia e ingestão de
líquido. Procurada pela segunda vítima que
registrou o boletim contra o hospital, mas até a publicação desta
matéria não conseguiu contato.
O médico responsável pelo parto informou que todos os protocolos de
segurança foram seguidos e que vai dar mais detalhes sobre o caso às
autoridades policiais. Procurada a direção do hospital, no entanto, o diretor responsável está de férias e só deve retornar em janeiro.
Investigação
Após o registro das ocorrências, a Polícia Civil de Guajará-Mirim deu
início ao processo de investigação e as testemunhas ainda estão sendo
ouvidas. Caso haja indícios de crime, um inquérito deve ser enviado ao
Ministério Público (MP), que vai decidir se oferece ou não denúncia à
Justiça.
Obinson Machado, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do
Estado de Rondônia (Cremero), comentou sobre como um procedimento de
parto deve ser realizado.
“As mulheres devem ser avaliadas por um especialista, a partir disso é
possível saber se a mulher está ou não em trabalho de parto. Caso a
dinâmica fetal esteja comprometida, ou seja, o feto está em sofrimento
ou a mulher esteja em trabalho de parto, essa mulher é internada e
acompanhada por um médico a cada 30 minutos ou a cada 2h. Dependendo do
caso é necessário uma intervenção cirúrgica”, comentou Obinson.
Fonte: G1