Por Fábio Marques
Dado seu estado de precisão, certa feita o poeta cogitou parar de
escrever. Na época tinha carradas de razões. Além de apurar os fatos,
checava os informes, fazia análises conforme seu senso crítico e buscava
ao máximo fazer isto à luz de uma dimensão humana para escrever para
meia dúzia de gatos pingados que ainda entendiam alguma coisa do
contexto de seus garranchos e outra porrada de gente metida a besta e
bem servida de coisas fúteis, mas que não entendiam porra nenhuma de
vida. Aí como é que o poeta iria conseguir falar de Karl Marx para gente
sem cabedal para sacar que o que eles queriam para si mesmos, não era a
mesma coisa que Karl Marx queria para todos os cidadãos?
Uma das
coisas que o deixava puto da vida era ter que assistir alguns distintos
da aldeia em que morava, que durante o dia faziam extorsões, não
passavam de ladrões e safados e no descair da tarde, quase à noitinha,
apareciam nos bares posando de intelectuais e pregando até ética
política. Aí depois de terem tomado umas e outras, estes insignes iam
embora para suas respectivas casas para darem suas respectivas trepadas
com suas respectivas esposas, que os corneavam com os respectivos
“pés-de-pano”. Em seguida dormiam “tranquilicalmos”.
Outra coisa
que também o deixava mordido era a raiva que lhe invadia as veias pelo
fracasso de suas empreitadas nesta vida fudida e que às vezes o fazia
pensar em não pensar em nada. Achava que fazendo amor com a mulher que
escolhera para si, esta sensação iria compensar sua depressão. Mas nem
tesão para isso tinha mais. Com o advento da Internet, descobriu umas
fotos antigas da ex-modelo Luiza Brunet na Revista Ele & Ela. Luiza
Brunet e seus vastos pelos pubianos. De imediato teve um insight: “Não
sei o que anda fazendo da vida a Luiza Brunet, mas ainda gostaria de
comê-la. Mas tem o seguinte: pra eu comer a Luiza Brunet, iria ter que
gastar com passagens da Eucatur até São Paulo e de lá pegar a Viação
Cometa até o Rio de Janeiro. Agora vai que chegando na Guanabara, a
Luiza Brunet não queira me dar. E aí? Como é que fica?”.
Mas
voltando à estaca zero. Estava puto da vida e em total depressão. Sem
nenhum centavo no bolso, seu consolo era ficar em casa fazendo uma coisa
banal e inofensiva: Ficar coçando o saco. Isto por incrível que pareça
lhe transferia uma falsa sensação de carregar o mundo nas costas e não
sentir a porra do peso que havia sido este inferno.
E foi assim
que acabado pelas circunstâncias da vida e consciente deste declínio
procurou informar seus leitores sobre sua situação. Ainda tomava suas
cervejas na base do “pindura” no Boteco do Clóvis, contava piadas,
jogava na loteria, levava umas para beber em casa ouvindo músicas e
também chorava de vez em quando. A verdade é que estava na lona e sem
eira nem beira.
Um pouco antes de partir para as grandes caçadas
nas pradarias celestes de Manitu, agradeceu aos leitores e às editorias
dos jornais que vez por outra o ligavam para alertar que seus artigos
estavam muito pesados e que se pudesse, fizesse as devidas mudanças.
Descanse em paz irreverente poeta, romântico e sonhador!
Apoio Cultural:
Coluna Almanaque: FILOSOFIAS, POLÍTICAS E LUTAS
Por Fábio Marques
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fevereiro 15, 2019
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