Coluna Almanaque: CABEÇAS ROLARÃO...

Por Fábio Marques
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Por Fábio Marques
Tido por quase todos os donos de comércio, donos de fazendas, puxa sacos destes e idiotas práticos de cultura inferior como um perigo em potencial para a ordem social, o poeta fôra chamado para uma conversa na brigada do exército, que via em seus escritos todo um conjunto de provas que compunham ameaça para o sistema e o regime que tenciona implantar aos cidadãos a “moral e cívica” lá deles.
Na portaria se apresentou: - Fui chamado para uma audiência nesta companhia.
Passada rápida vista em seus documentos, o Sargento Carrasco Tortura ordenou ao Soldado Boa Morte para acompanhar o poeta até a sala do Coronel Coice dos Cavalos. Na passagem entre a recepção e a sala do comando, um “corredor polonês” com 12 “arranca-tocos” o saudaram com as “boas vindas”. Após muitos cascudos, pontapés, joelhaços e cuspidas, o levaram com algumas costelas quebradas ao Coronel Coice dos Cavalos.
- Bom dia senhor Fúlvio Mássimo. Vamos conversar...
- Pude observar pela acolhida que aqui o Estado de Direito não funciona - Reclamou.
- Funciona e de forma perfeita. Só que aqui o Estado de Direito para vagabundos como o senhor, atende pela alcunha de “pau-de-arara”.
O neo-fascista na mais completa acepção da palavra prosseguiu: - Aqui está constando que o crime que senhor comete é o de pensar com a própria cabeça e duvidar da lógica do sistema e das fórmulas que o regime deseja implantar. O que o senhor tem a dizer em sua defesa?
Com o corpo abatido, mas com alma repleta de revolta e coragem, respondeu: - Tenho a dizer que este regime está mandando para a puta que pariu toda a história, toda a cultura, toda a filosofia, toda a poesia, o Senado Romano, a época das luzes e os direitos humanos.
Ato contínuo, lhe trancaram numa solitária e fizeram-lhe uma lavagem cerebral através da sinfonia verde-oliva tocada em alto volume. No dia seguinte mandaram atestar seu nada consta no exame de corpo delito junto à capitã Escrota Tribufú, médica da guarnição.
Hoje o poeta vagueia pelo Mercado Público vestido com calças e camisas rajadas, boinas e coturnos, violão a reboque berrando a cantoria da brigada infante.
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Estava o escriba no apronto do artigo quando a lâmpada do estúdio queimou. Pediu à esposa que assistia “Mulheres Apaixonadas” que trocasse a lâmpada, pois era incapaz de fazer qualquer coisa fora dos parâmetros intelectuais.
- Dá para trocar a lâmpada, lady?
- Depois da novela eu troco.
Esperou paciente a novela acabar para implorar: - Dá para trocar a lâmpada?
- Tua gueixa vai trocar a lâmpada.
- Minha gueixa? Você não sabe o que é gueixa. Gueixas são mulheres que estudam anos para dar prazer aos homens e só depois de estarem com os diplomas nas mãos é que podem utilizar o título de gueixa. Gueixas têm formação em harpa lírica, poesia, serviços de chás, massagens eróticas e matérias de sexo. Você não é gueixa. Você é apenas uma ex-ficante e fudente de um sem-número de amantes nesta cidade que um dia qualquer me conheceu e me deu um chá de buceta.
- Tu é ridículo, cara! Vou trocar sua lâmpada. Sou a mulher e o homem da casa mesmo...
- Fodam-se os dois! Rechaçou o intelectual, saindo de casa para tomar uma cerveja.
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Mamoré não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.
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