Coluna Almanaque: ESPÉCIE EM EXTINÇÃO

Por Fábio Marques
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Apesar dos conselhos didáticos das novelas da Rede Globo que relega às classes com menos prestígio uma posição mais elástica em relação ao adultério, grande parte da plebe ignorante ainda reluta a aceitar a idéia de carregar como enfeite um belo par de chifres na cabeça. Ser corno é um luxo ao qual os pobres não se habituam muito a estar lidando. De acordo com suas filosofias, chifres parecem ficar bem melhor nas cabeças de prefeito, deputado, médicos, membros do alto escalão da justiça forense, donos de comércios, fazendas, tecnocratas e executivos.
Diz o ditado que não existe ex-corno nem ex-viado. Mas os conceitos mudaram. Não que as pré-concepções tenham varrido os juízos de valores sobre as armações da vida. Mas hoje os conceitos precisam ser revistos a todo instante. As mutações atinentes ao assunto racharam de vez com o protótipo não só do corno, mas também do viado. O ex-viado é hoje o que se chama de pansexual e o corno parece não ter mais nada a ver com aquela antiga cultura do pobre coitado.
A leitura do corno nos dias de hoje está voltada para o sujeito moderno. Não tardará o dia em que o marido ao chegar do trabalho, irá perceber a ausência da esposa. Neste instante o cidadão servirá uma dose de Balantines e passará a refletir numa penumbra que remetem às novelas de mulheres infiéis. As horas passarão, os filhos que ficaram na escola serão entregues por uma mãe mais ajuizada. O insigne cidadão em questão dará pouca atenção a seus moleques. Apenas ordena que eles se ocupem no quarto porque tem uma conversa séria com a mãe deles quando esta chegar. Em seguida retorna para a análise em detalhes dos anos que passaram juntos, dos momentos felizes e dos obstáculos vencidos na vida conjugal. Perdido em suas reflexões, nem percebe quando ela abre a porta e adentra a casa. Péssima atriz, condena. Ela fala:
- Teobaldo, o que ta fazendo aqui sozinho nesta penumbra?
- Pensando em como pude ser otário durante todos esses anos.
- Como assim?
- Como assim? Pois então explique. Sabe quem trouxe nossos filhos da escola hoje? A Lucila. A Lucila foi quem trouxe os meninos da escola. Você não tem vergonha?
- Teobaldo, você quer escutar?
- Escutar o quê? Vai me dizer que você não tava fazendo o que eu acho que você tava fazendo?
- Não, eu juro!
- E onde você tava então? Na missa, na procissão ou no culto ao diabo, sua vagaba?
- Então ta! Quer mesmo saber? Estava com outro homem. Ele escreve para os jornais da cidade. Fomos para um motel lá da Bolívia. Bebemos um pouco de Paceña e depois ele me possuiu seis vezes seguidas. Me envolvi com aquilo tudo que o tempo passou e não percebi. Acabei de atravessar e por pouco não pegava a última voadeira.
- Sua safada... vagabunda... piranha... Tá mentindo sua filha da puta! Eu sei que você tava era fazendo compras no Comercial Obadias.
Ato contínuo, o marido desfere uma porrada na cara da mulher que a faz cair sobre um punhado de sacolas de compras que estavam atrás da poltrona.
É a extinção da espécie.
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Mamoré não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.
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