RESUMO: A questão da qualidade
no atendimento não é assunto exclusivo da iniciativa privada. Ela é uma
preocupação também da administração pública. Eventualmente se ouve pessoas
reclamando do modo como foram mal atendidos em algumas repartições públicas,
onde alguns servidores se sentem superiores e donos, tratando os usuários como
se estivessem prestando um favor. A atenção, o respeito e a cortesia no tratamento
a ser dispensado aos usuários, as prioridades a serem consideradas no
atendimento; o tempo de espera em filas; os prazos para o cumprimento dos
serviços; os mecanismos de comunicação com os usuários; os procedimentos para
atender as reclamações; as condições de limpeza e conforto entre outros, formam
o elenco a ser observado rigorosamente pelos órgãos e entidades públicas no
estabelecimento dos padrões de qualidade no atendimento que ansiamos por
eles.
PALAVRAS-CHAVE: Qualidade, cidadão,
usuário, atendimento.
1. INTRODUÇÃO
O Governo Federal já conta
com uma norma sobre qualidade no atendimento, o decreto nº 3.507, de 13 de
junho de 2000, que “dispõe sobre o estabelecimento de padrões de qualidade do
atendimento prestado aos cidadãos pelos órgãos e pelas entidades da
administração pública federal, direta, indireta e fundacional, e dá outras
providências”.
Trata-se do início da
normatização deste assunto, pois logo no artigo 1º o Decreto diz que “Ficam
definidas as diretrizes normativas para o estabelecimento de padrões de
qualidade do atendimento” enquanto o artigo 2º diz que os referidos padrões
“deverão ser observados na prestação de todo e qualquer serviço aos
cidadãos-usuários; avaliados e revistos periodicamente; mensuráveis; de fácil
compreensão; e divulgados ao público”.
Observando termos como atenção, respeito e cortesia, teríamos apenas que
lamentar o fato de vivermos num país onde é necessário, uma lei dizendo da sua
necessidade. Entretanto, como não podemos forjar outra realidade num passe de
mágica, precisamos valorizar este instrumento e entendê-lo como um veículo que
poderá ser capaz de conduzir o serviço público a dias melhores. A adoção da
Qualidade como instrumento de modernização da Administração Pública Brasileira
deverá levar em conta simultaneamente a sua dimensão formal que se refere à
competência para produzir e aplicar métodos, técnicas e ferramentas e a sua
dimensão política que se refere à competência para projetar e realizar organizações
públicas que atendam às necessidades dos cidadãos. A gestão pela Qualidade
instrumentalizará o alcance da dimensão política em sua expressão mais ampla: a
cidadania.
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Graduado em Administração pela Universidade
Federal de Rondônia - UNIR
A
qualidade na gestão pública depende da capacidade das organizações de
funcionarem como entidades estruturadas, nas quais seus elementos constitutivos
atuam de maneira integrada e harmônica. Para que tal aconteça é preciso que
todos os seus agentes, servidores e dirigentes estejam envolvidos e
comprometidos com a obtenção dos resultados institucionais e com a implantação
de ações contínuas de melhoria, como diz o autor e palestrante Roberto Shiniashik
“Qualidade Total, Treinamento constante”.
No setor público a qualidade somente será possível
por meio do envolvimento efetivo de todos os servidores, do compromisso e
cooperação entre gerentes e gerenciados, com o propósito de produzir qualidade
dentro e fora da organização.
É
importante ressaltar que a qualidade não deve ter o foco somente no atendimento
aos usuários, mas também na execução dos serviços internos como, por exemplo,
redução dos desperdícios em geral onde os mais freqüentes são uso indiscriminado
de papel, energia elétrica, água, tempo excessivo no intervalo para o
cafezinho, etc. Deve ser tratado também as questões relacionadas à manutenção
da frota e equipamentos, principalmente preventiva, sistema de refrigeração de
ambientes, móveis. Não se pode esquecer também a parte de relações
interpessoais no trabalho, onde o exercício de todo esse conjunto e se houver a
conscientização dos servidores de que servidor público é para atender e bem o
público, ainda se chegará a um bom nível de qualidade.
O
presente artigo tem por objetivo geral investigar o processo que leva a
qualidade no serviço público contribuindo assim para a melhoria dos serviços no
processo de transformação gerencial, com ênfase na produção de resultados
positivos para a sociedade, na otimização dos custos operacionais, na motivação
e participação dos servidores, na delegação, na racionalidade no modo de fazer,
na definição clara de objetivos e no controle dos resultados.
Apresenta
como objetivo específico sensibilizar os servidores para a participação no
esforço de melhoria da qualidade na prestação de serviços pelo setor público.
A
escolha do tema deu-se pela constatação de inúmeras reclamações de mau
atendimento de usuários em conversas informais, bem como em denúncias através
de programas de rádio, televisão e jornais.
2. O QUE É QUALIDADE
Somente no início da década de 90, em função do desnivelamento dos
parâmetros de produtividade entre as empresas privadas e públicas, houve certa
preocupação em desenvolver literatura aplicável à gestão pública.
Qualidade,
segundo Deming W. Edwards (apud. Oliveira,
1995) é:
Perseguição às necessidades dos clientes e homogeneidade
do processo de
serviços com baixa variabilidade (pré-visibilidade).
A
difusão da Qualidade no Brasil iniciou-se com o lançamento do Programa
Brasileiro da Qualidade e Produtividade – PBQP em 1990. Para Gomes (1997.52) a
Gestão da Qualidade Total no Setor Público “pode ser vista como um amplo
processo de mudança cultural cujo principal objetivo é modificar as relações
institucionais, transformando chefes e subordinados em parceiros que busquem
atingir as metas da organização”. Assim na administração pública a opção pela
GQT tem o objetivo de:
- Melhorar o atendimento ao usuário e, ao mesmo
tempo, diminuir a pressão dos gastos públicos sobre a economia,
conseguindo uma máquina administrativa mais enxuta e flexível;
- Alcançar níveis de excelência através da
motivação do funcionalismo, que passa a se sentir valorizado pela função
que ocupa;
- Melhorar a imagem institucional perante a
sociedade, que fatalmente considerará a mudança na prestação dos serviços,
onde tudo começa pelo contato, servidor-usuário.
Para
Prazeres (2005), “O contato profissional é uma interação entre duas ou mais
pessoas – o profissional de atendimento e o cliente”. Um atendimento somente
poderá ser considerado bem sucedido se conseguir satisfazer as necessidades de
quem presta o atendimento e de quem o recebe. Dessa forma, podemos dizer que
atender é oferecer soluções que satisfaçam necessidades. Essas necessidades
apresentam-se como “problemas”. O cliente tem necessidades e quem atende tem
soluções na forma de algum produto ou serviço. O profissional de atendimento
descobre as necessidades do cliente por determinado produto ou serviço e
imediatamente procura satisfazê-las.
3. SERVIÇO PÚBLICO
Em
1996, o Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado – MARE elaborou
o Programa da Qualidade e Participação na Administração Pública, baseado no
PBQP, concebido como instrumento básico da modernização da gestão pública e referencia
algumas distinções entre o setor público e o setor privado, quanto a
implantação da Qualidade.
SETOR PRIVADO
|
SETOR PÚBLICO
|
- Preocupação em satisfazer o cliente baseado no
interesse;
- O cliente atendido, remunera diretamente a
organização, pagando pelo serviço recebido ou pelo produto adquirido;
- As políticas voltadas para a Qualidade
referem-se a metas de competitividade no sentido da obtenção, manutenção e
expansão de mercado;
- Livre autonomia estabelecida pela legislação e
perfil da clientela.
|
- Preocupação alicerçada no dever;
- O cliente atendido, paga diretamente pela via
do imposto, sem qualquer simetria entre a quantidade do serviço; recebido e o
valor do tributo que recolhe
- A meta é busca da excelência no atendimento a
todos os cidadãos, ao menor custo possível;
- Limite de autonomia estabelecida pela
legislação e o perfil da clientela.
|
Segundo Brancato (1998), entende-se por serviço público “toda atividade
que o Estado exerce para cumprir seus afins, exceto a judiciária”.
Temos também o conceito mais amplo de
Medauer (1996) que diz “Saber quando e porque uma atividade é considerada
serviço público remete ao plano da concepção política dominante, ao plano da
concepção sobre o Estado e seu papel. É o plano da escolha política, que pode
estar fixada na Constituição do país, na lei e na tradição. A Constituição
pátria considera como serviços públicos p. ex.: o transporte coletivo, no
art.30, V; serviços telefônicos, telegráficos, no art.21, XI; energia elétrica,
no art.21 XIII. Finalidades diversas levam a considerar certa atividade como
serviço público, dentre as quais: retirar da especulação privada setores
delicados; propiciar o benefício do serviço aos menos favorecidos; suprir
carência da iniciativa privada; favorecer o progresso técnico. Em essência, serviço
público significa prestações; são atividades que propiciam diretamente
benefícios e bens, aos administrados, não se incluindo aí as de preparação de
infra-estruturas (arquivo, arrecadação de tributos, p. ex.). Abrange prestações
específicas para determinados indivíduos, p. ex. água, telefone e prestações
genéricas, p. ex. iluminação pública, limpeza de ruas. No momento em que a
atividade de prestação recebe a qualificação de serviço público, conseqüências
advêm, em especial quanto ao regime jurídico, mesmo que fornecida por
particulares.
4. A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE NO SERVIÇO
PÚBLICO
A
qualidade se apresenta como condição para a permanência das empresas no
mercado; da mesma forma, o setor público como prestador de serviços à sociedade,
tem por obrigação melhorar o seu desempenho por meio da Qualidade. Percebe-se o
esforço do governo, porém sabe-se que para mudar a Qualidade é necessária uma
transformação na cultura organizacional das instituições públicas, a fim de
possibilitar mudança de comportamento e atitudes.
Lebouef (1996, p.98) ressalta que:
A partir do momento em que
os gestores
levam a sério
a questão da
da
qualidade, diversos fatores
são necessários par a
assegurar que o
aperfeiçoamento da qualidade
torne-se uma realidade
permanente
e não apenas mais um modismo.
E isso só é possível através de
treinamento constante e muito comprometimento por parte de líderes que comandam
estas instituições. É de extrema importância o desenvolvimento de ações, cujo
propósito é transformar as organizações públicas, procurando torná-las cada vez
mais preocupadas com o cidadão do que com os seus processos burocráticos
internos. Em outras palavras, fazer com que o setor público passe a considerar
o cidadão-usuário e que a avaliação do seu desempenho, como diz Gillen: “quando
feita positivamente, tem muitos benefícios e muitos beneficiários. Dentre
numerosos outros benefícios, a vantagem preponderante da avaliação é permitir
que o desempenho melhore - o que beneficiará a todos. Essa é a principal razão
da avaliação: o feedback sobre a qualidade melhora o desempenho. Esse é um
ponto central no gerenciamento moderno”, como instituição inclua como item
obrigatório, embora não único, a satisfação dos cidadãos que utilizam seus
serviços, não esquecendo também para que as instituições consigam trabalhar num
clima harmônico e prestar um bom serviço é necessário que os servidores sejam
pessoas com saúde mental, que de acordo com Chiavenato (1997) são pessoas que
“sentem-se bem em relação às outras pessoas e são capazes de enfrentar por si as
demandas da vida”.
5. CONCLUSÃO
A
utilização de estratégias para implantação da qualidade no serviço público
requer um monitoramento de todos os níveis hierárquicos das instituições
visando a garantir a continuidade das ações, não deixando que desmotivação
recaia nos servidores consequentemente traga reflexo direto no atendimento e
tratamento aos usuários.
Eis os 8
princípios da gestão pública pela qualidade
1.
Satisfação ao cliente: 2. Envolvimento de todos 3.
Gestão participativa:
Atenção prioritária ao
usuário Trabalhar de maneira
Buscar o máximo
de
dos serviços públicos. integrada e
harmônica. cooperação das pessoas,
reconhecendo
a capacidade
e
o potencial diferenciado
de cada um.
6. Constância de propósitos: 5.
Valorização das pessoas: 4.
Gerência de processos:
Para a construção de um Dar
autonomia para atingir Agregar valor aos produtos/
futuro desejado, agir metas,
criar oportunidade de serviços.
persistentemente, de forma aprendizado de desenvolvimento
contínua. das potencialidades e de
reconhecimento pelo bom
desenvolvimento.
7. Melhoria contínua: 8.
Gestão pró-ativa:
Procurar novas
oportunidades para a Resposta rápida às mudanças do
ambiente
organização, utilizando
como referenciais antecipando-se no atendimento
às novas
os modelos de
excelência. demandas do usuário.
Fonte: Fundação Nacional de Saúde – Coordenação
Regional de Rondônia
Calendário -2004.
Tendo como foco estes princípios e a conscientização global que a
prestação de serviços em todos os momentos deve estar sempre sendo vislumbrado
como esforço contínuo e permanente para a qualidade que trará como retorno
imediato a visualização do cidadão usuário contente, lembrando que com a
melhora do ambiente interno, consequentemente a qualidade do atendimento
externo também vai melhorar.
REFERÊNCIAS
LEBOEUF, Michael. Obtendo resultados. Como contagiar as pessoas com sua motivação.
Rio de Janeiro: Record, 1996
CHIAVENATO, Idalberto. Recursos Humanos. 4ª edição, São Paulo: Atlas, 1997.
GILLEN, Terry. Avaliação de Desempenho, São Paulo: Nobel, 2000.
PRAZERES, Hélvio Tadeu Cury. Como Administrar Pequenas
Empresas, Viçosa – MG: CPT, 2005.
BRANCATO, Ricardo Teixeira. Instituições de Direito Público e de Direito Privado. 11ª edição,
revista, São Paulo: Editora Saraiva, 1998.
MEDAUER, Olivier. Direito Administrativo Moderno, São Paulo: RT, 1996.
OLIVEIRA, Marco Antônio, Evolução do conceito de qualidade, São Paulo: Nobel, 1995.