Por Andrey Cavalcante
“Se nossa vida começa e termina com a necessidade de afeto e
cuidados, não seria sensato praticar amor e compaixão enquanto podemos?” O
pensamento, atribuído ao Dalai Lama, é o que de mais próximo me ocorre para
expressar minha incontida alegria ao anunciar o restabelecimento de minha avó,
Maria Inácia da Silva, que conseguiu vencer o Covid/19. Ela deixou a UTI,
depois de 21 dias de luta contra esse vírus insidioso, responsável pela maior
tragédia que já se abateu sobre o país. Agradeço a Deus pela recuperação
daquela mulher, forte nos seus 92 anos, minha segunda mãe. E agradeço a Deus e
aos amigos, que se uniram em orações por seu restabelecimento.
Também testei positivo para o coronavirus, mas consegui me
recuperar com tratamento medicamentoso, sem necessidade de internação.
Sinto-me, porém, na obrigação de manifestar minha profunda solidariedade a
tantas famílias devastadas pela endemia, com a perda de entes queridos e
proibidas inclusive de acompanhar o sepultamento. Ou das condições de prover
seu sustento, com a severidade das medidas de isolamento social necessárias
para conter o avanço da contaminação. Mais lamentável ainda é constatar que, apesar
dos esforços das autoridades, continua dramático o crescimento do número de
óbitos, 12 apenas nesta terça-feira, o que elevou para 506 o número de vidas
rondonienses ceifadas pela pandemia.
Há que se observar, contudo, que alguns municípios têm
conseguido efeitos significativos no combate ao vírus. Em Manaus, que há
relativamente pouco tempo ocupava o noticiário nacional com o trágico
sepultamento de vítimas em vala comum, o presidente do grupo hospitalar Samel,
Luis Alberto Nicolau, anunciou, em vídeo distribuído na segunda-feira, estar
muito perto o fim da pandemia no município. Em Nova Mamoré, que aplicou medidas
de isolamento apenas parcial, foram registrados 340 casos positivos, todos
tratados em domicílio, e cinco mortes. Muito próximo e com acesso obrigatório
por Nova Mamoré, o município de Guajará-Mirim registrou 1.540 casos, com 54
óbitos.
O teste domiciliar explica o sucesso do combate à pandemia
feito pela Prefeitura de São Caetano do Sul, em parceria com a universidade
municipal (USCS), que fortaleceu os cuidados oferecidos na atenção primária à
saúde (APS), a porta de entrada do SUS. O mesmo processo é orientado pela
médica mineira Raissa Soares em vídeo que obteve grande repercussão nas redes
sociais. Ela chama a atenção para a estratégia adotada, em Porto Seguro, onde
trabalha: “O segredo está no PSF (Programa de Saúde da Família)” - ensina. “As
equipes fornecem medicamentos já nas visitas domiciliares com a simples
manifestação de sintomas de gripe. A pessoa é registrada para acompanhamento e
informada sobre como evitar o contágio de toda a família. Com isso, conseguimos
conter a doença na fase inicial, cujo tratamento é mais rápido e barato”.
Observa-se que há pontos convergentes em todos esses
exemplos de sucesso: mobilização, união, atitude e tratamento precoce. É
fundamental a mobilização de todos para a superação de uma crise de cada vez. A
atuação bem sucedida no combate à pandemia permite afastar o verdadeiro pavor
causado pela perspectiva de contaminação. A partir daí, superada a crise
sanitária, pode-se usar a mesma mobilização para romper a crise econômica e,
quem sabe, enfrentar satisfatoriamente a crise política depois disso.
Como fazer isso? Que tal usar de compaixão e empatia? Basta
olhar todos os lados de uma situação e compreender que cada um tem seus
motivos, dores, dificuldades e sentimentos. Augusto Cury aconselha humildade e
perseverança. Assim, “quando você errar o caminho, recomece. O sucesso não é
exclusividade de quem tem uma vida perfeita, mas de quem sabe usar as lágrimas
para irrigar a tolerância. Usar as perdas para refinar a paciência. Usar as
falhas para lapidar o prazer. Usar os obstáculos para abrir as janelas da
inteligência. Jamais desista! De si mesmo ou das pessoas. Pois a vida é um
obstáculo imperdível, ainda que se apresentem dezenas de fatores a demonstrar o
contrário”.
*Andrey Cavalcante é advogado, membro Honorário Vitalício e
Conselheiro Federal da OAB/RO
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