O Projeto Cine IFRO (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia), do Campus Guajará-Mirim, debateu o “Agosto Lilás” que trata da violência doméstica contra a mulher. As sessões ocorreram nos dias 26, 28 e 29 de agosto de 2020 para as turmas dos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio, para as turmas de graduação, cursos subsequentes e de EJA (Educação de Jovens e Adultos). Foram envolvidos todos os níveis de ensino para o debate, diferenciando as sessões e seus mediadores.
O CINE-IFRO é um projeto de pesquisa e extensão, aprovado pelo Edital 14/2019/REIT – PROEX/IFRO, com o objetivo de implantar no Campus Guajará-Mirim o Núcleo de Extensão em Produção Cultural (NEPC). O Núcleo visa oportunizar discussões em diferentes temáticas e áreas do conhecimento, envolvendo a comunidade acadêmica e a sociedade local. Refere-se ao cinema como campo de afetação, reflexão, criticidade e inspiração criativo-poética-imagética, ampliando assim, o conhecimento, produção em arte e integração com a sociedade, potencializando outros modos de ver e suas relações com o mundo e seu entorno. Em tempos de atividades remotas o projeto retorna suas ações de forma on-line debatendo no mês de agosto sobre a violência doméstica contra a mulher.
Campus Guajará-Mirim desenvolve projeto Cine IFRO para debater Agosto Lilás
Segundo a coordenadora do projeto, Marcela Lima, “o tema do debate foi sugerido pela Professora de Sociologia, Maria das Graças Freitas de Almeida. É importante considerar o aumento de casos de violência doméstica durante o isolamento social, além disso, o ‘Agosto Lilás’ é uma campanha que surgiu como uma forma de combater a violência doméstica contra a mulher. O mês foi escolhido por marcar a data em que a Lei Maria da Penha foi sancionada, 07 de agosto de 2006. Dessa forma, o projeto não poderia deixar de debater sobre o assunto que, infelizmente, ainda se faz tão urgente e necessário”.
A Professora Marcela Lima explica que a violência contra a mulher é um assunto e uma realidade vivenciada em diferentes contextos, uma vez que se encontra violência doméstica em todas as classes sociais do mundo, questão que atravessa séculos de opressão e de silêncio na história da humanidade. “As representações do corpo feminino em uma perspectiva histórica e cultural de processos normatizadores e de atitudes de resistência relativas ao corpo. A violência de gênero é pretensamente de natureza doméstica, perfaz a relação de posse do homem sobre a mulher, definindo o corpo desta como pertence e subjugado. Foram questões levantadas e amplamente debatidas. O projeto realizado em agosto exerceu sua maior característica, atuou de forma interdisciplinar e como projeto integrador envolvendo as áreas de português, artes e sociologial. Além disso, os diferentes mediadores enriqueceram com seus conhecimentos e experiências, no debate que foi um dos mais emocionantes desde o início do projeto”, afirma Marcela.
As ações do projeto no primeiro semestre objetivavam seguir com sessões de cinema e suas respectivas mediações, desenvolver oficinas de imagens, criação de pequenos curtas e produção fotográfica dialogando com diferentes áreas do conhecimento, porém com início das atividades remotas algumas ações tiveram que ser repensadas. Agora o grupo está produzindo vídeos sobre o trabalho com arte desenvolvido pelos alunos dos primeiros anos para serem exibidos em outras ações culturais como: o projeto “Sexta Cultural e para o III Festival de Arte e Cultura”, que estão marcados para dezembro deste ano. E os filmes foram substituídos por documentários, de menor duração e com ênfase aos momentos de debate.
De acordo com a Professora de Sociologia do Campus Guajará-Mirim e vice coordenadora do NEPC, Maria da Graças Freitas de Almeida, “falar sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher não é fácil, pois envolve dores e cicatrizes de uma convivência que um dia começou tendo o amor como princípio. A escola cumpre seu papel de representante da sociedade quando preza por trabalhar o combate a preconceitos e desigualdades sociais abordando temas relevantes e necessários de mudanças. O projeto, na minha concepção, foi esclarecedor, pois trabalhou com a desconstrução da ideia que a violência doméstica caracteriza-se somente por abusos físicos, uma vez que a violência ocorre também através de palavras e atitudes que causam dor e humilhações às vítimas. Foram debates com informações que comoveram, esclareceram e despertaram o interesse do público presente”.
Para a convidada Daniele Schweickardt, do IFSUL Campus Venâncio Aires, uma das responsáveis pela mediação com os alunos do ensino médio integrado, o melhor instrumento para enfrentar a violência contra a mulher é a educação, aliada ao diálogo permanente sobre o tema. “Parabenizo ao IFRO pela iniciativa e pela coragem ao tratar dessa temática tão importante. Falar sobre a violência contra a mulher é bem delicado, mas não falar é muito perigoso para toda a sociedade. O silêncio perpetua o problema. Se quisermos evoluir nesse sentido, precisamos encarar o problema de frente. É dolorido, porém necessário”l, explicou.
De acordo com o coordenador dos cursos subsequentes de Enfermagem e Vigilância e Saúde, Douglas Mouro Piffer, e que foi um dos mediadores do evento, a oportunidade ofertada pelo Cine IFRO para discussão de um tema transversal, mas ao mesmo tempo tão presente em na realidade atual, “ [...] possibilitou-me a realização de uma autorreflexão crítica sobre minha trajetória profissional. Relembrar velhas experiências vividas quando no exercício da profissão de policial civil e técnico de necropsia, ou quando da realização de pesquisas nas comunidades tradicionais do Baixo Madeira durante minha formação acadêmica, aliadas àquelas vivenciadas no exercício da docência através do relato de meus alunos, me faz pensar sobre meu papel no processo da educação de jovens e adultos: somos somente transmissores de conhecimentos? A educação técnica presta-se apenas à formação profissional voltada para o mercado de trabalho? Ou seria a vocação da educação atuar como instrumento transformador, empoderador e libertador das mazelas e minorias sociais? Estas reflexões, entre outras, devem ser o cerne da translucidação do papel do educador diante de uma conjectura de realidades onde habitam nosso público-alvo e produto de nossos objetivos: o ser humano, e o seu desenvolvimento físico-psíquico-social”, avaliou o docente.
Para o estudante do segundo ano do Curso Técnico em Biotecnologia Integrado ao Ensino Médio e bolsista do projeto, Raphael de Aguiar Lopes, “[...] o Cine-IFRO nos traz tantas vivências, seja ela dos mediadores ou das pessoas que participam dos debates. O projeto é muito importante para todos e seus ensinamentos podem ser levados pelos alunos para suas casas e comunidades desempenhando assim um papel social único”.
O Professor de Informática, Etnã de Oliveira Lima, foi o responsável pela transmissão do conteúdo audiovisual. “O conteúdo exposto foi atual e de interesse público, trabalhado de forma diversificada com vídeos, comentários, relatos de experiências sobre a temática: violência doméstica e familiar contra mulher - destaque para a campanha: ‘Sinal Vermelho’, lançada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). Outras películas trataram do caso de ‘Litígio Internacional: Maria da Penha’, também ‘Violência Contra Mulher em Tempos de Pandemia’, ‘Violência Doméstica, 2 Minutos para Entender – Superinteressante’ e ‘Violência Doméstica por que elas não vão embora Juliana Wallauer TEDxFortaleza’”, elencou Etnã.
O CINE IFRO Guajará
O projeto se caracteriza em exibições de produções cinematográficas referentes às diversas temáticas, preferencialmente nacionais. Além das obras exibidas, profissionais de diferentes áreas (professores, pesquisadores e artistas) são mediadores e debatedores das temáticas vinculadas às obras cinematográficas. As temáticas trabalhadas até a 6ª edição foram referentes a questões de gênero/sexualidade, étnicas, diversidade, racismo e preconceito. Em 2020 realizamos no mês de março sessões relacionadas ao ensino da arte e o respeito às diferenças através do filme “Como Estrelas na Terra – Toda Criança é Especial” que foi exibido para a turma do curso FIC de “Arte e Educação” e para os alunos dos primeiros anos dos cursos integrados de Biotecnologia e Informática do Campus Guajará-Mirim, tendo como mediadoras as professoras Marcela Lima (Arte) e Maria da Graças (Sociologia).
Com o início da pandemia advinda pelo novo coronavírus e a necessidade do isolamento social, o projeto foi suspenso em abril e retornou suas atividades de forma on-line em agosto. Segundo a Coordenadora Marcela Lima a pretensão é dar continuidade ao projeto até o final do ano. “As sessões on-line são bem diferentes das presenciais, mas percebo que dessa forma o projeto ganha dimensões mais amplas, adquire a capacidade de atingir um número mais amplo de pessoas e em diferentes lugares, além de proporcionar a participação de mediadores de instituições como o IFSUL”, disse.
As sessões realizadas para os alunos dos cursos integrados tiveram a participação da Assistente Social da Coordenação de Assistente ao Educando (CAED/IFRO Guajará-Mirim), Altina Maria Pereira de Souza, e a mediação de Daniele Schweickardt (IFSUL). As sessões para os cursos de graduação, subsequentes e EJA ficaram sob a responsabilidade de Altina de Souza e de Douglas Moro Piffer (IFRO - Guajará-Mirim).
A abordagem metodológica do projeto é de natureza fenomenológica ancorada na possibilidade de conhecer e reconhecer as múltiplas vozes que compõem posicionamentos e perspectivas variadas sobre diferentes temáticas abordadas pelos documentários exibidos e seus respectivos mediadores. “Até então foi possível observar a grande contribuição do projeto não apenas na vida dos estudantes, mas também, a todos que participam, o que me permite citar a artista e pensadora Fayga Ostrower que muito bem descreve a experiência com a arte e através da arte: ‘As formas de arte representam a única via de acesso a este mundo interior de sentimentos, reflexões e valores de vida, a única maneira de expressá-los e também de comunicá-los aos outros. E sempre as pessoas entenderam perfeitamente o que lhes fora comunicado através da arte. Pode-se dizer que a arte é a linguagem natural da humanidade’. Sim, é preciso acreditar nesse caráter transformador que os projetos culturais, assim como, a vivência da arte em suas diferentes formas ampliam as reflexões na vida e com a vida”, concluiu a Professora Marcela Lima.
Fonte: Assessoria
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