Por Fábio Marques
Com o objetivo de dar provas para todos os estratos sociais de que os jornais de notícias da cidade rodavam suas crônicas sem fazerem regulação de mídia, dando assim enfoque incondicional à liberdade de expressão, é que o poeta resolveu escrever uma epístola de inspiração e instinto mais profundos para que saísse totalmente sem cortes. Nesta matéria, ressaltou aos donos dos veículos de imprensa, que aqui e acolá iriam aparecer palavras chulas, mas que não causariam maiores espantos às normas de condutas vigentes.
Estava tentando escrever um livro. Também estava querendo alguém com poder de capital que pudesse investir neste projeto bancando a impressão. Mas no dia da noite de autógrafos, gostaria muito que este compêndio fosse apresentado por uma puta. Mas puta mesmo! Não prostituta de ocasião, daquelas que passam a noite nas choperias da cidade, dão umas ficadas com alguns fedecas ou traficas habitués do pedaço e depois vão contar tudinho para suas colegas.
Também estava querendo um drogado. Mas não um drogado de fim de semana. Estava querendo um drogado desses que a sociedade cospe em cima, urina em cima e recebe de volta uma lágrima, um sorriso ou a mão direita pedindo uns trocados para mais uma parada. E por último, para enroscar ainda mais o enrosco, estava querendo um viado. Mas não um viadinho qualquer. Um viadaço mesmo. Na sua concepção, iria ser uma festa de arromba, regada a Buchanans e Bacalhau.
Depois de tomado todas, sabendo que cú de bêbado não tem dono e visando continuar sendo o proprietário do seu, sentaria de costas para a parede com uma garrafa na mão a fim de utilizar contra quem se metesse a atrever ou a engrossar.
Tinha o costume de escrever nas noites em que as loucuras que habitam as correntes cerebrais acabam trazendo ruídos que nunca se pediram para escutar. Nas noites em que qualquer barulho lá fora, de carro, moto, bêbados passando, falando sozinhos, ressoam nos tímpanos como um chute nos culhões. Nas noites em que tanto anjos como demônios fervilham dentro dos espíritos. Nas noites em que se percebe a sensação de uma vida próxima que se desloca mas que não se consegue compreender que porra é essa, Nas noites em que se pressente a sensação de que o próprio corpo não nos pertence. Nas noites de insônia, angústia e solidão.
Tudo isto faz parte da vida cotidiana do escritor, mesmo que este escritor nunca tenha escrito porra nenhuma na vida. Se este escritor absorver tudo que esta energia concentra, passará da inação para a ação imediata. Caso contrário, baterá muita punheta até que o sono se restaure. E gozará um gozo de merda que com certeza depois irá se arrepender. Jamais irá conseguir vencer seus fantasmas.
Seu desejo maioral seria terminar tal escrito neste final de Dezembro. Faleceu antes. Mas sempre na batalha contra o inútil e contra a ignorância dos brucutus da idade da pedra lascada daquela cidadela.
*Texto enviado do Além pelo espírito do poeta Fúlvio Máximo.
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