Por Fábio Marques
Dado seu estado de precisão, certa feita o poeta cogitou parar de escrever. Na época tinha carradas de razões. Além de apurar os fatos, checava os informes, fazia análises conforme seu senso crítico e buscava ao máximo fazer isto à luz de uma dimensão humana para escrever para meia dúzia de gatos pingados que ainda entendiam alguma coisa de seus garranchos e outra porrada de gente metida a besta e bem servida de coisas fúteis, mas que não entendiam porra nenhuma de vida.
Uma das coisas que o deixava puto da vida era ter que assistir alguns distintos da província em que morava, que durante o dia faziam extorsões, não passavam de ladrões e safados e no descair da tarde, quase à noitinha, apareciam nos bares posando de intelectuais e pregando até ética política. Aí depois de terem tomado umas e outras, estes insignes iam embora para suas respectivas casas para darem suas respectivas trepadas com suas respectivas esposas, que os corneavam com os respectivos “pés-de-panos”. Em seguida dormiam “tranquilicalmos”.
Outra coisa que também o deixava mordido era a raiva que lhe invadia as veias pelo fracasso de suas empreitadas nesta vida fudida e que às vezes o fazia pensar em não pensar em nada. Achava que fazendo amor com a mulher que escolhera para si, esta sensação iria compensar sua depressão. Mas nem tesão para isso tinha mais. Com o advento da Internet, descobriu umas fotos antigas da ex-modelo Luiza Brunet na Revista Ele & Ela. Luiza Brunet e seus vastos pelos pubianos. De imediato teve um insight: “Não sei o que anda fazendo da vida a Luiza Brunet, mas ainda gostaria de comê-la. Mas tem o seguinte: pra eu comer a Luiza Brunet, iria ter que gastar com passagens de Porto Velho até São Paulo. E em seguida com a conexão entre o terminal aéreo de Guarulhos até o campo de aviação do Galeão. Agora vai que chegando no Rio de Janeiro, a Luiza Brunet não queira me dar. E aí? Como é que fica?”.
Mas voltando à estaca zero. Estava puto da vida e em total depressão. Sem nenhum centavo no bolso, seu consolo era ficar em casa fazendo uma coisa banal e inofensiva: Ficar coçando o saco. Isto por incrível que pareça lhe transferia uma falsa sensação de carregar o mundo nas costas e não sentir a porra do peso que havia sido este inferno.
E foi assim que acabado pelas circunstâncias e consciente deste declínio procurou informar seus leitores sobre sua situação. Ainda tomava suas cervejas no boteco da esquina, contava piadas, levava umas para beber em casa ouvindo músicas e também chorava de vez em quando. A verdade é que estava na lona e sem eira nem beira.
Um pouco antes de partir de vez para o eterno talvez, agradeceu às editorias dos jornais que vez por outra o ligavam para alertar que seus artigos estavam muito pesados e que se pudesse, fizesse as devidas mudanças.
Que descanse em paz...
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