Por Fábio Marques
Numa cidade como a nossa, marcada pela intimidação política, não basta apenas ser honesto. É preciso alardear e confirmar o tempo inteiro esta honestidade de práticas e princípios. O paradoxal é que as pessoas, por terem bom caráter e lutarem por maneiras sui generis de viverem suas vidas, muitas vezes, por causa da inveja ou do recalque alheio, são “julgadas” e condenadas de forma perversa; depois são mutiladas e expostas em praças públicas para que não sejam seguidas ou acabem servindo de exemplo.
Sempre fui um cara de oposição, um cara que se fez conhecer nos jornais da cidade pelo manejo da caneta, pela palavra escrita; maioria das vezes fazendo denúncias sobre atos nocivos de gestões públicas já passadas.
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Por conta disso já fui tachado de crítico folgado, rebelde sem causa, bêbado contumaz e o cacete a quatro. Também já tive que suportar ironias tipo: “Cara que se diz de esquerda, mas metido a bon-vivant, gosta de uísque, de bons pratos, de bons queijos...”. Esses leprosos queriam que eu, além de pobre, fudido, passando por mil aperreios para acertar minhas contas, ainda deveria como forma de autopunição, encher o cu de Sessenta e Um. Hoje não posso, mas quando pude já comprei e degustei de várias “botellas” de Buchanans e Balantines do mesmo modo como já fui para a cama com beldades e madames que nunca foram pro meu bico. Estes prazeres, por incrível que pareça, também acontecem com pobres fudidos metidos a jornalistas.
Confesso que se não me achasse com energia para dizer minha opinião me opondo a uma caterva que hoje se oferece para o público ignorante e que parece ter a simpatia de alguns chegados, eu ficaria calado. Mas na verdade se faz preciso que se use essa energia para resistir a esta corrente de opinião e ficar à parte deles – lógico que fazendo os últimos esforços para arrancar a viseira que os impede de enxergar outros ângulos e indicar o atalho das coisas legais.
Estamos em ano eleitoral e pouco a pouco estamos vendo aparecer os notórios comparsas desta falange que reúne os mais sádicos canalhas que, por freqüentarem nossos bares, nossas praças e em muitos casos, até nossas casas, se disfarçam como baratas sub-reptícias. Já dizia um poeta que no seu íntimo o canalha é um bom sujeito, muitas vezes até bom pai e quem sabe, bom marido e contador das melhores piadas.
Não obstante, os canalhas, tenham o cargo ou dinheiro que tiverem, são apenas canalhas. É difícil excluí-los dos partidos políticos porque sabem disfarçar muito bem. São cínicos capazes de aplaudir os sem-vergonhas e de saudar as pessoas de bem com a mesma cara-de-pau. Portanto, homens honrados são homens honrados, registrem-se dentro da doutrina que quiserem. E canalhas são canalhas, façam o discurso que fizerem.
Sei que pensar assim dá trabalho, atinge consciências, desgosta algumas pessoas, fere o orgulho e a vaidade de outras, comporta riscos e ameaças; mas evita o ridículo e o grotesco na vida pública.
*O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Mamoré não tem responsabilidade legal pela "opinião", que é exclusiva do autor.
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