CRÔNICA COM SABOR DE MATRINCHÃ ASSADA NA FOLHA DE BANANEIRA

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O Mamoré
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Saimon Santos

Leitores e leitoras da Pérola do Mamoré e do Berço do Mamoré, vejam que beleza: o rio Madeira é o resultado do encontro manso e escorregadio das águas mornas do Mamoré com o Beni. 

Ambos nascem nas encostas fecundas dos Andes, serpenteiam paralelamente os vales bolivianos e se encontram amorosamente em Vila Murtinho, onde ocorre a cópula e o êxtase final.

Triunfalmente, nasce o rio Madeira no útero fecundo da Amazônia, sob as bençãos da Igreja de Santa Terezinha do Menino Jesus, e do olhar férreo, enferrujado, solitário e esquecido da velha Estrada de Ferro Madeira Mamoré.

Leitores e leitoras! Vamos às origens, aos povos ancestrais que durante centenas de anos habitaram as margens desses três majestosos rios que se abraçam e se fecundam em Vila Murtinho.

Vocês, leitores e leitoras da Pérola do Mamoré e do Berço do Madeira, já comeram Matrinchã?

É um peixe muito parecido com a nossa saborosíssima jatuarana, um pouco menor, com escamas brilhantes, e também delicioso. 

Pois então! Os povos ancestrais que habitavam às margens do Mamoré, o denominavam “Mamuri”, que significa “Matrinchã”, um peixe muito comum na bacia do Mamoré. 


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Há ainda a encantadora lenda que a palavra Mamoré significa, “Mãe dos Homens”. Matrinchã ou Mãe dos Homens, são riquezas de uma ancestralidade que precisamos resgatar e preservar. 

Rio Mamoré, rio Mamuri, rio Matrinchã ou Mãe dos Homens! Bonito né? 

Beradeiros e beradeiras da Pérola do Mamoré e do Berço do Madeira! É preciso se agastar um pouco sobre o estudo da origem das palavras (etimologia). Bem sabeis que a palavra tem poder, para o bem ou para o mal. 

Faça a sua escolha com coragem! O rio Madeira é corajoso, escolheu transpor corajosamente seu trecho encachoeirado de Vila Murtinho a Porto Velho, e derramar-se mansamente pela planície Amazônica até o abraço final nas águas profundas do Amazonas.

Bom! Deixemos o Madeira e vamos ao Beni. Vocês sabiam que o nome dado ao Departamento do Beni (Bolívia), foi uma homenagem feita ao Rio Beni?

Beni, palavra originária de uns dos dialetos dos povos que habitavam as suas margens e que significa “Pradarias” (planícies). 

Rio Beni, “Rio das Padrarias”! 

Vou confessar-lhes beradeiros e beradeiras! Vivo em permanente êxtase com as águas achocolatadas do Rio Madeira. Em Vila Murtinho ela é mais achocolatada ainda, onde a borra e o aroma do cacau “alimento dos deuses”, impregnam docilmente as pedras, madeiras, peixes, homens e mulheres e as barrancas do rio. 

Rio Corajoso esse, né? Era assim que os povos ancestrais que habitavam suas margens, assim o denominavam. Esses povos lindamente o batizaram de “Caiari”: Rio Corajoso, rio que Treme ou rio da Resolução. 

O nosso rio Madeira, volto a afirmar incansavelmente, nasce em Vila Murtinho. Foi um presente que a Geografia nos legou, era o rio Corajoso desses povos ancestrais que domesticaram o cacau, a mandioca, entre outras plantas que verdejavam em suas férteis margens.  

Vejam beradeiros e beradeiras! Chegamos ao Gran Finale dessa crônica achocolatada, com sabor de Matrinchã assada na folha de bananeiras que nascem nas pradarias do Beni. 

Beradeiros e Beradeiras! Sejamos fortes e corajosos como o rio Madeira. 

Bom apetite!!

Simon O. dos Santos – Cronista.



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